quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Vamos indo



Espetou-se aquela fragil
Arte de existência
Qualquer coisa do género
Já nada se faz acionando a carne


Alquimia alguns grunhiam
Que se foda
Que me aquece
Simplesmente presente se é

O amontoado branco
lá está
Pairando no fundo negro

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Amanhousser

Algum trâmite prossegue
Visto à luz do fogo
Nos lençóis da noite
Que se fluem na mata 
E se desvencilham à aurora

De dois pares de lunetas
Ferrou as mãos
Enrola na areia, vai e vem
Espuma do mar e água

Ah que me dirigiram 
Um imperativo categórico
Uma ontologia de qualquer coisa
Um pincel borrado de tinta
Uma equação de resultado
Aleatório de como duas ondas
Se sentem duais à beleza 
Da claridade psicadélica

Ao riso da manha
Já virou antologia
Bela representação
Da beleza que se estende
Aos doces manejos
Do mar de éter, calcificado

Arrombado sem qualquer meio
Fechado sem qualquer motivo
A que resta saber, se ao sonho
A cama tirasse

O sono se propagaria no lingote da espécie.

Ano 41

Riam e abanavam o braçal
De mão fechada
Como se tal mão
Alguma vez tivesse dado algo a alguém

Semearam a semente
Infertil 
Transgénica
Modificada para pingar propaganda

Nos ouvidos das pobres borboletas
Entre fogo e insecticida
Pelourinhos e ladroagem
Despertaram para o cio
De uma tal libertinagem
Que sem igual nunca se vira até então

Agora por ai andam..
Mentira ali, falácia acolá
Milhão, menos milhão
Com uma seita de liberais disfarçados
Que quando se vêm na falência
Urge a necessidade de mamar na têta 
E perde-se o tesão digno, do ganho privado

Até que então, tudo permanece
A cartesis pura
Embriões filhos da puta
Com meios e obrigação

Seguem a cantar… ao lado de Caronte. 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Pedrada na janela

Entrou-me, claro, pela janela
De madrugada, vento ligeiro
Folhas dançantes, orvalho
Que mais parecia uma marcha de fadas

Observei aquele pôr do Sol
Estático como uma coluna jónia
Erguida pelo cruel manejo
Das pedras erectas como lanças

Encontrei em mim uma árvore
Ao contrário, com uma peruca de raízes
E um corpo de ramos, apegados ao tronco
Que me fazia a crer que o reflexo
Se devia à inerente e aprendida teimosia
De me ver em pé, com a cabeça no solo
Pisando o espelho celeste

Olhei mais para dentro
Nada mais restava
A não ser uma projecção não localizada
De um derramamento de alegria
Envolvido em qualquer coisa de 
Que sem a pretensão de saber

Lá mergulhei.

sábado, 5 de setembro de 2015

Ourives de porcelana.

São dois sóis
Tão transparentes,
e reflexivos como a superficie
das águas de algum degelo qualquer

Queria tanto olhar para eles
Ver amor e felicidade
Ou toda a espécie de qualquer coisa
Que me deixa ambiguamente
Entregue ao doce maneio do seu tamanho

Vejo-me no meio das poeiras galáticas
Lá fiz questão de deixar essas estrelas
E toda a felicidade nelas contidas
Para que houvesse espaço suficiente
Para não serem amesquinhadas pela vizinhança.

Tal doçura parda, cor de Outono
Coloquei no meu saco de pano
E segui para lá daquela estrada sem dono.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Pessoal Agressivo

Deita-se sobre o despraiado 
Tal humanidade dançarina, bonita, floral oceânico
Queima os olhos dos sonhadores
Da barraca dos apolos obstinados
Já de tanta seta dourada nos olhos de outros
O brilho contemplarem. 

Corpo é a sêda
Mãos que amarram a Lua
E amassam os montes de Venus
No anfiteatro das barbatanas
Espaço de ninguém
Entre uma porta 
Onde uma reacção toma lugar. 

Foi-se a artrose do prazer
Desejo inflamado mas sem ardência
Bebedeiras ao Sol
De um anima revelado
Como bacantes 
Em modo de supressão

La separa as aguas
do lago
Frígido de tanta calma
com abruptos pedregulhos 
Arrastados em anonimato
Pesados como um novelo de lã

sábado, 8 de agosto de 2015

Overdose de tudismo.

Deixa correr

Se a "depressão" te apanhar

Deixa que te apanhe

Pode ser que concluas que a auto-indulgência são lérias

Deixa arder

Se o fogo dos teus actos te queimar

Deixa que te queime

Se a flor que brota do teu umbigo

Nascer

Deixa que nasça

Deixa-te ficar submerso

As bolhas de ar na água 

Deixa que elas sejam os teus universos

Deixa que os reflexos

Sejam as tuas expansões plenárias 

Deixa ser fornecido

Para que te geres

Que os teus olhos sejam janelas

Numa torre panóptica

E a seguir põe-te em transcendência

Eternidade num momento

Mas tem cuidado

Com o partido, o doutoramento, o sal da terra, os santos dos ultimos dias, a ideologia, a acção, a musica no coração, o velho do Restelo, o mundo sem pêlo, os amigos incondicionais, os ventres das prostitutas locais, as facadas nos tendões, os movimentos enferrujados, o trote da culpa, o galope da frieza…. não por menos de 6000 euros e um cargo de direcção…

sábado, 7 de março de 2015

Livros ao Oxogénio - Parábola da Mulher de Loth - Agostinho da Silva



A parábola da mulher de Loth, há muito a dizer, todavia esse "dizer" se resuma a um silêncio de tomba, à boa moda anglo-saxónica, terra fria, humidade a preço de revenda, musgo na lápide, parecendo pesada, non-sense, quando abordada de forma materialista e "racional"....Sim, usada para descrever um estudo de uma vida que os "irracionais" concluíram em um minuto onde a conjuntura se revela contra a uniformização do Self, e finalmente acorda para a singularidade, num Universo onde tudo é único e todo é excepção... A abordagem alegórica do Deus abrahamico encontra-se nas primeiras folhas deste livro, como uma história de condenação irónica à verdadeira conversa de Policies e de um Apólogo de Pródico de Céos em que a determinado momento, a seta dourada brilha em nossos olhos pelo teor e a progressão melódica nas entrelinhas dos diálogos que o autor nos presenteia, excepcionalmente pelo próprio ter a consciência que a voz da Deusa ressoa na surdez animalesca do tuguismo de circus, esperando que a descodificação se torne na portugalidade que sempre nos identificou do "improvavel" fazer-se a realidade natural....De passear e trabalhar ao mesmo tempo, vadiar e estar alerta..Coisas pela qual a história narra que os portugueses são capazes de fazer, até de sonhar não totalmente embebidos na decadence e na vacinação, secando a pineal, e deixando o darwinismo pseudo-intelectual, reduzido ao niilismo do corpo e ao esquecimento da centelha divina, que nos individualiza e que contem todo um Universo interino, embaraçado em caminhos complexos onde todos chegam à realização.


------------------------------------------------ Citações do livro ---------------------------------------------------


“ Mas a liberdade só existe quando todos os nossos actos concordam com todo o pensamento; e eu sei que não é esse todo o teu pensamento, sei que tens na alma uma centelha mais nobre e alta, sei que às vezes te passa pelo espírito a sombra dum remorso, que vives em desacordo contigo mesmo; nunca, porém, te quiseste encarar de frente, homem para homem, e fazer que a tua vida fosse a realização plena das aspirações mais elevadas, um caminhar através de tudo e de todos para a região clara e pura do ideal; porque o contrário, arrancar da alma a nobreza e a humanidade que nela colocou um Deus divino, nunca o poderias conseguir por mais esforços que tentasses, por mais que não quisesses ouvir a voz eterna” – pág .16




“ Olha, eu sei que todo o mundo um dia se há-de transformar em liberdade e ser mais sereno, mais transparente e mais puro do que este céu de crepúsculo que nos envolve; cada um de nós, quando nasce, recebe uma parte da injustiça do Mundo, e a alma dos que morrem depois de se terem despojado do que lhes coube de tirania, de egoísmo e de brutalidade, vai contribuir para formar esse céu, como dada gota contribui para a extensão e a profundidade dos mares” pág -18


“ E o Bem que principia triunfar; esse avança as claras, não se esconde, não se refugia no segredo e na ignorância” – pág 19


Em relação ás ideias do Mestre, auto-realização do aluno – “ Mas sei também que para Platão nenhum prazer seria maior que o de me ver liberto dele” pág -25

“ Há outra sereia mais feiticeira que Platão? Sabes tu qual é? (Policés para Menexeno ) - O pensamento de Platão; e essa manda-me seguir e seguir sempre, ir mais longe do que ele, se puder, explorar as paragens onde não conseguiu chegar” pág -26

“ Se não fosse tão grande mestre, jamais os seus discípulos sentiriam o anseio sagrado de o ultrapassar; acredita Menexeno: o mestre vulgar é como os passarinheiros que cortam as asas das pombas, para que as pombas não voem até onde elas não possam alcançar. Mas Platão só deseja que se banhem no azul dos céus e tão alto subam que toda a terra se desdobre e revele a seus olhos.” – pag.27

“ Pois a liberdade é mais do que tudo a obrigação em que nos sentimos de não dispor dos outros” pág -28
“Foi a ambição de Fídias realizar uma estátua da deusa que exprimisse o seu próprio ideal e o ideal do seu tempo e nada mais, ou uma estátua em que o ideal de todos os tempos encontrasse a sua mais perfeita, a sua mais pura representação?”

“ Só o comum é eterno” Quem o sabe? Há talvez também uma eternidade de diferenças.” Pág. 32

“ Antes de esculpir um homem na criança que lhe entregaram – qualquer homem em qualquer criança – deve ser um ideal de homem; “ – pág. 35

“ Relembrou-te o velho que todo o mundo é um fluir perpétuo, um continuo fugir e perpassar, fogo a consumir-se e a renovar-se eternamente. Não é assim?” – pág 38

“ Creio, portanto, que há entre eles de comum o facto de terem pensado o Universo; pensaram-no de maneira diferente: não importa; isso já é divergência e nós, se bem te lembras, vamos caminhando em busca da universidade. Tomemos agora um outro tipo de homem, o sapateiro, por exemplo. Crês ainda que haverá entre ele e Heraclito ou Parmnénides alguma coisa de comum? Pág – 40 – Policlés”

“Nem a linguagem, nem os gestos, nem a ocupação, nem a ciência lhes são comuns.  – Menexeno”

“Pensará o sapateiro com a mesma amplidão que os sábios que apontamos? – Policlés “

“ De modo algum, Policlés. - Menexeno” - Pág 41

“ Mas é por completo destituído da capacidade de pensar – Policlés. Pág 41

“ Também não, meu amigo. Poderemos talvez dizer que há entre ele e os outros uma diferença de grau, mas que, para ordenar e harmonizar entre si todas as partes dos objectos que fabrica, põe em jogo a mesma actividade que levou o filósofo a encontrar entre todas as partes do Universo.  – Menexeno

“ Vejo que todos os homens têm entre si o comum do pensamento” pág 42

“ Deve-lhes dar o habito e o amor do pensamento, desenvolver o que neles há de verdadeiramente humano; deve acostuma-los a chegarem sempre ao fim dos seus raciocínios, a não se cansarem e desistirem a meio; deve levá-los a que tenham as ideias como guias da vida; todo o homem que pensa e se obedece é caminheiro da estrada da verdade, venha donde vier, venha por onde vier. O nosso mal, meu amigo, está em que não pensa a maior parte dos homens”. Pág 43

“ Há outro mal ainda, Policlés. Os que pensam e não põem a sua vida de acordo com o pensamento.” – pág 43

“ Nos lagos da alma todo o penedo se deve desfazer em branca e fofa areia, fina, onde bailão as ninfas” pág 47

“ Seria preciso não viver para negar que o mundo seja mau; mas é nessa mesma maldade que devemos procurar o apoio em que nos firmarmos para sermos nós próprios melhores e, como tal, melhorarmos os outros.” – pág 48

“ Houve uma alma que melhorou – a de Platão; e melhorar-se cada um a si próprio é fazer o maior dos esforços para que cada um melhore.” Pág. 49

“ Mas o ideal será viver sem intervir no mundo; o que se ganha não balança o que se perde. Desde que nos encontramos na vida, afastemo-nos de tudo o que nos pode ferir, vivamos retirados na meditação e no silêncio.” Pág 51

“ Platão foi decerto um dos que viu a seta de ouro passando entre as estrelas; nós, pelo menos, a colhemos reflectida em seus olhos. O nosso dever é seguir o caminho que nos aponta; e para mim não há estrada mais lisa, nem tarefa mais alta.” Pág 57

“ Se pensas no futuro e o exprimes, todas as forças do presente se hão-de levantar contra os teus gestos.” – pág 57

“ Policlés: Meus amigos, eu não creio no presente. E do passado lembro apenas do ponto donde parti; vou levado em amor e razão como num carro alado.” – pág 58

  Policlés: O mais importante do mundo não é a Terra nem o Sol; o nosso navio não é, como tu julgas, este solo da Atica ou os muros de Esparta... Cada um de nós traz dentro da sua alma a galera que nenhuma tempestade há-de fazer naufragar; e o problema, para todo o homem que pense, está em alargar de tal modo que o seu convés possa acolher toda a imensa multidão dos seres; quando todos o tiverem conseguido – e, com o homem, as árvores dos bosques, as aves dos céus, as pedras das montanhas – então, ó Crítias, o mundo será salvo.” – pág 61/62

“ Policlés: Sócrates não se demonstra melhor do que os juízes senão depois da sentença, quando de novo lhes dirige a palavra; porque então encontrou em si mesmo o campo necessário para se conciliar com eles. Platão é melhor do que Sócrates porque já vai compreendendo os sofistas; e eu e tu Crítias, se um dia compreendermos Dionísio, seremos melhores do que Platão.” Pág – 64

“ Crítias: Ó poeta! Se bem entendo, tu vês no amor a salvação do Mundo” pág- 64

“Policlés: Ou na inteligência, que o mesmo é, meu Crítias.” Pág-65

“ Policlés: Porque, ó Menexeno, agrada-me mais o trabalhar com almas do que o trabalhar com palavras” Menexeno: Nem só com almas terás que lidar; Policlés. É impossível desprezar os corpos.” pag – 74

“Policlés: Crês tu que os corpos sejam mais que um dom da alma? Sabes, se não receasse assemelhar-me aos que deixam apoderar do delírio sagrado de Dionísio, dir-te-ia que vejo no corpo a piedade dos deuses pelo espírito grosseiro e imperfeito dos homens. Héracles, ao tornar-se deus, reconheceu que não precisava do corpo e voluntariamente se despojou dele na fogueira do Eta.”
Crítias: Que farias então da ginástica?” Policlés: um exercício da alma, Críticas. O dever do homem é desprezar a piedade dos deuses; disse mal: superá-la. Se fizer um dia uma Républica, banirei da cidade os atletas; são os mais baixos dentre os homens. “ Pág – 75

“Crítias: Nada há nisso de estranho se acreditarmos, como tu dizes, que o corpo é uma esmola dos deuses; passam a vida inteira a esmolar” pág – 76

“Policlés: O contrário deles será o que utilizar o corpo para aperfeiçoar a alma e para, o mais depressa que puder, restituir a esmola aos deuses.” Pág – 76

“ Policlés: Que a ginástica sirva para que o corpo se não faça sentir, seja como inexistente, e para que a alma se fortifique e desenvolva.” Pág – 77

“ Policlés: Eis a palavra, Menexeno ; é necessário que um dia todos os homens vejam, como tu o vês, que o desejo de chegar mais longe, a atenção à critica, a calma ante o que fere, nada têm com a força e a fraqueza: são qualidades da alma” pág - 79




domingo, 1 de março de 2015

Sub efeitos do antrofiótico


Contactos de pés andantes
Em lamas condensadas por magia
e outros animais ao quartzo lunar

É um lenocínio vadiar
entre espinhos de cabeça invertida
quando o próprio sangue 
se torna magma do oitavo circulo

Bêbedo à sede na estepe dos delírios
A brutalidade do alinhamento
resultou no escorrer de águas
das colunas salomónicas 
onde a pedra afundada
latejava na conversa 
com a força criativa do pedaço de manifestação

À parte dessa possibilidade em círculos 
A febre torna-se o amarrar à felicidade
A letargia o amarrar ao sofrimento. 

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Ontogenesis Philogenesis






Nascidos da espuma
Entre dois arquétipos
Do sono evasivo 
Pirilampos azuis
Que gravitam nos bambus
Dos meus olhos

Círculos raquídianos 
Nego-me no corpo
Tomo para mim a consciência
Num hotel com 7 biliões de estrelas
Movido a ar
Onde o amor e o amado são o mesmo.

Espirais e espirilos 
O raio passa entre as suas curvaturas
Fazendo-me crer que o tempo é a mais sublime
Das calcificações mentais da artrose sináptica 

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Natura Naturandis









Não me perguntem o porquê,
Aparte de qualquer geometria,
O rei do mundo será,
Sempre aquele mais livre de todos

Sem pensar em resolver-se
Que se resolva tomando para si
A soma dos seus triângulos
Dê aos seus vértices um prisma
Asas naturadas

Nem bem, nem mal
Águas bebidas de um muro gigante
Tal me faz pensar em transcendência
Vomitando os vazios alados de pensamentos,
Em correntes de terras húmidas.